CRESS Entrevista Sandra Neves sobre Serviço Social e Oncologia

A primeira edição do CRESS Entrevista de 2020 faz referência ao Dia Mundial de Combate ao Câncer, 4 de fevereiro. Nós conversamos com a assistente social Sandra Neves sobre Serviço Social e Oncologia, e ela falou sobre a rede de atendimento no estado e as particularidades da atuação profissional nesta área específica da Saúde.

Especialista em Saúde Pública e Serviço Social e cursando especialização em Instrumentalidade do Serviço Social, Sandra trabalha na Liga Contra o Câncer e atua também como palestrante na temática do Serviço Social em Oncologia.

“Atuamos como mediadoras/es e facilitadoras/es entre as instituições oncológicas e as/os usuárias/os”, afirma Sandra. “Entende-se que são muitas as dificuldades postas diariamente no cotidiano profissional, que esbarram nos limites da atuação da/o assistente social, por isso também cabe a nós buscar qualificação”.

Confira a entrevista completa

CR: De que forma a/o assistente social atua no atendimento e tratamento de pacientes com câncer?

SN: Na área da Saúde, e em particular na Oncologia, são refletidas em nossos usuários diferentes expressões da questão social. O próprio adoecimento em parte se deve à manifestação da precariedade das condições de vida, uma vez que a dificuldade do acesso à atenção básica com vistas à prevenção vem acarretando o diagnóstico tardio. Isto é resultado da fragilidade das políticas de proteção social.

Assim, a relevância da/o assistente social nos hospitais oncológicos se dá no sentido de analisar através do cotidiano profissional as diversas questões que envolvem o paciente e seus familiares, bem como as dificuldades que eles têm para acessar serviços de saúde. Desta forma, cabe ao profissional criar estratégias para o enfrentamento destas questões.

Algumas das atuações da/o assistente social nos atendimentos são: escuta qualificada; entrevista social; palestras socioeducativas sobre, por exemplo, direitos e benefícios sociais dos pacientes oncológicos, entre outros. Além disso, faz-se necessário realizar encaminhamentos aos bens e serviços oferecidos pelas diversas instituições, com o objetivo de auxiliar no processo de tratamento, onde o profissional realiza o acolhimento ao paciente e sua família, proporcionando um atendimento humanizado com qualidade e resolutividade.

CR: Como deve ser uma rede multidisciplinar ideal para este atendimento?

SN: A experiência tem mostrado que todo sucesso no atendimento e diagnóstico precoce da doença reside no fato de que as atividades se desenvolvam de forma articulada, ou seja, em rede. Por isso é de suma importância que o paciente seja identificado na atenção básica, para que este seja encaminhado de forma correta ao serviço especializado, munido da ficha de referência e de toda a documentação necessária para o atendimento.

Para que o acesso ao atendimento ocorra de forma precisa, faz-se necessário que a rede multidisciplinar esteja estruturada e organizada, pois a dificuldade desses usuários de chegarem aos serviços especializados é um dos maiores entraves, devido principalmente à falta de acesso à informação.

Dessa forma, para ter qualidade e resolutividade no tratamento, é preciso que este paciente seja encaminhado de forma precoce e correta pelo profissional capacitado da Unidade Básica de Saúde (UBS).

Sendo assim, para uma rede multidisciplinar fluir de forma ideal, é necessário que seja completa, articulada e unificada a outros serviços de saúde e aparelhos sociais, sendo essencial aprimorar e desenvolver os processos de qualificação e capacitação profissional das equipes, no âmbito do trabalho em saúde. É válido salientar que é imprescindível a implementação de ações que visem à qualidade e eficácia no atendimento. 

CR: Como você avalia, hoje, a inserção de assistentes sociais neste campo de trabalho?

SN: A inserção da/o assistente social atualmente é de suma relevância nesse espaço de trabalho, pois atuamos como mediadoras/es e facilitadoras/es entre as instituições oncológicas e os usuários. Entende-se que são muitas as dificuldades postas diariamente no cotidiano profissional, que esbarram nos limites da atuação da/o assistente social, mas cabe a cada profissional também a busca pela qualificação, principalmente na área de tratamento oncológico, e a utilização de todo o conhecimento e técnicas adquiridos na busca de melhores alternativas, no sentido de informar e orientar a/o paciente ou usuária/o.

A/o assistente social tem contribuído de modo diferenciado e humanizado, pois além de intermediar os conflitos, usa da articulação, intervenção e criatividade para trabalhar em uma perspectiva de autonomia e de mudança gradual dos envolvidos. 

Além de viabilizar o acesso às informações, no que se refere aos assuntos em oncologia, contribui também para o acesso aos serviços hospitalares, no sentido de realizar as mediações entre o hospital, o usuário e a sua família. A/o Assistente Social deve desenvolver um olhar crítico da realidade e ser conhecedor de seu papel, contribuindo para que a intervenção tenha efetividade.

CR: Como você avalia o atendimento a pacientes com câncer, atualmente, pelo SUS?

SN: Antes de tudo, é importante ressaltar que, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a saúde pública teve muitos avanços. Um deles foi a criação da Política Nacional de Atenção Oncológica, em 2005, com a finalidade de dar assistência aos pacientes com câncer. Esta política visa e contempla ações que enfatizam o diagnóstico, prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos e foi proposta como estratégia para ações integrativas de controle das neoplasias malignas. 

O atendimento a pacientes oncológicos pelo SUS acontece previamente através das UBS, seja na capital ou no interior. Por este motivo, é de suma importância que a/o paciente seja regulado e/ou encaminhado de forma precisa, visando a qualidade e agilidade neste atendimento. 

Infelizmente, um dos fatores que fazem com que essa/e paciente chegue ao serviço especializado tardiamente é o estigma da doença, o preconceito e a falta de acesso à informação, sendo esta última um dos gargalos ao atendimento precoce. 

Eu avalio que no RN o atendimento é muito satisfatório, pois temos uma das instituições de referência oncológica, que é a Liga Contra o Câncer, oferecendo um serviço especializado de forma completa pelo SUS. Esta instituição é um Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON), ou seja, é um hospital que possui condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de assistência especializada de alta complexidade para o diagnóstico definitivo e tratamento de todos os tipos de câncer.

Vale ressaltar que pode sim haver melhora no que já está satisfatório, pois, para ocorrer um atendimento eficiente e com qualidade, é necessária a articulação e atenção dos profissionais que trabalham nas UBS’s, além das parcerias com as Secretarias de Saúde e Prefeituras dos municípios, com relação às viabilizações de bens e serviços, justamente objetivando a precocidade para o encaminhamento dessas/es usuárias/os ao serviço especializado.

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