Hoje é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, a data também homenageia Tereza de Benguela, líder quilombola que dirigiu o quilombo do Quariterê, localizado em Mato Grosso, e assim como diversas mulheres negras, teve seu papel na história invisibilizado. Ressaltamos a luta dessas mulheres que enfrentam, em seu cotidiano, a perversa associação do machismo e do racismo.
No país onde a maior parte da população é negra e feminina, a opressão e exploração têm cor e gênero. Assim como os retrocessos no campo dos direitos sociais, como a contrarreforma da previdência, a redução no orçamento da política de educação e assistência social e o desmantelamento de serviços e programas de saúde, a exemplo do Mais Médicos.
Sendo maioria das usuárias desses serviços mulheres negras, não por acaso, assumem papel fundamental na denúncia e enfrentamento do Estado brasileiro, que sequer é capaz de por fim ao racismo institucional.
Também no último período, se intensificou o discurso conservador e medidas no âmbito da liberdade e direitos humanos, que resultam em formas de opressão das mulheres, a partir do controle do seu corpo. Não por acaso, o Ministério da Saúde retirou de seus documentos o uso do termo violência obstétrica, se negando a reconhecer a violência sofrida por milhares de mulheres no momento do parto, em sua maioria negras, jovens e pobres, conforme dados do próprio ministério em pesquisa realizada em 2014, que apontou que 62% dos casos de mortalidade materna ocorrem entre mulheres negras.
O Estado que criminaliza mulheres que realizam aborto, que trata uma questão de saúde pública como caso de polícia e tenta recuar inclusive nas situações consideradas legais, nega também o direito ao parto digno e respeito às mulheres que, nos últimos anos, têm denunciando atendimentos desumanos em hospitais e maternidades brasileiras. Isso comprova, portanto, que a questão diz respeito ao controle do corpo feminino, da liberdade da mulher sobre sua vida sexual e reprodutiva.
Nesse sentido, no dia de hoje, ressaltamos a luta e contribuição histórica de mulheres negras. É dia de lembrar e homenagear Tereza de Benguela, Dandara, Carolina de Jesus, Marielle e tantas outras mulheres que dedicaram suas vidas à luta contra o machismo e o racismo.
Também denunciamos o retrocesso político do Estado brasileiro, no campo dos direitos das mulheres, que se traduz no aumento da violência, inclusive institucional, em especial sobre mulheres negras e pobres.