Com exatamente 3261 pessoas envolvidas, dentre palestrantes, participantes e trabalhadores/as, terminou na última sexta-feira (18) o 14º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), em Águas de Lindóia (SP).
A conferência de encerramento, com o tema “Trabalho do/a assistente social no contexto da crise do capital: desafios para a categoria profissional” trouxe as palestras das professoras Marilda Iamamoto (UERJ) e Carmelita Yazbek (PUC-SP). A primeira falou sobre o trabalho de assistentes sociais na realidade atual, abordando a questão da precarização e seus rebatimentos no exercício profissional. Ela ressaltou que as políticas anticrise são ainda mais devastadoras, pois privatizam lucros e socializam custos, agravando a já difícil situação de trabalhadores/as.
“Nesse contexto, torna-se fundamental a qualidade do trabalho de assistentes sociais, com respostas éticas, técnicas e políticas, como parte do trabalho social em todo o mundo, que identifica a nossa categoria com o conjunto da classe trabalhadora, suas formas de organização e de luta. Afinal, essa profissão não se confunde com assistência social, fazendo de nós muito mais do que meros executores e executoras de políticas públicas”, completou Iamamoto.
A professora Carmelita Yazbek, por sua vez, palestrou sobre a inserção do serviço social nas lutas e movimentos sociais no contexto de crise, bem como sobre a mobilização e a participação das entidades representativas do serviço social brasileiro nas conquistas e manifestações da categoria profissional no país.
Segundo a professora, o/a assistente social sofre as consequências da nova hegemonia liberal-financeira nos espaços nos quais atua. “Daí que pensar o serviço social com base em seus compromissos ético-políticos torna-se indispensável para nos opormos ao individualismo, ao conformismo e a ao conservadorismo da sociedade capitalista. Por isso, temos o papel de politizar a política social e de politizar a própria categoria profissional”, ressaltou Yazbek. Ela concluiu, destacando também a importância dos eventos, publicações, debates, promovidos pelo Conjunto CFESS-CRESS, pela ABEPSS e pela ENESSO, o que, segundo a professora, “permite atribuir às nossas organizações um caráter de intelectual coletivo, capazes de articular a inserção de assistentes sociais na construção de uma outra sociedade”.
Entidades avaliam
Após a conferência, o público do CBAS assistiu à apresentação da sistematização dos eixos de apresentação de trabalhos e à prestação de contas do evento, que contou com participantes de todos os estados brasileiros, além de assistentes sociais de Angola, Argentina e Portugal.
Logo depois, na mesa de encerramento, a presidente do CRESS-SP, Eloísa Gabriel dos Santos afirmou que o 14º CBAS ficou para a história. “Esse congresso nos reafirmou que temos muito a fazer, as reflexões aqui acumuladas nos renovaram para seguirmos na construção coletiva em defesa dos direitos da classe trabalhadora”, disse.
Para a presidente da ABEPSS, Regina Ávila, os debates mostraram a força do projeto profissional do serviço social brasileiro. “Com as conferências, plenárias e sessões de trabalhos, verificamos aqui a maturidade e o compromisso ético dessa categoria com o exercício profissional de qualidade e direcionado à defesa dos direitos humanos e de uma sociedade democrática e anticapitalista”, afirmou.
O representante da ENESSO, Jodeylson Islony, enfatizou a reafirmação da luta do serviço social por outro projeto societário, em aliança com os movimentos sociais. “A ENESSO reitera o compromisso político com a derrubada do capital e com o fortalecimento da formação de qualidade, na direção da emancipação humana. Valeu, assistentes sociais, valeu CBAS”, finalizou.
Quem declarou o encerramento dos trabalhos foi o conselheiro do CFESS Maurílio Matos, que avaliou o 14º CBAS como um espaço de reflexão política e de reafirmação do projeto profissional. “Esse projeto pelo qual vimos lutando há mais de 30 anos ainda tem muito a dizer e a mostrar a essa sociedade, que sofre com a barbárie capitalista. Saímos daqui com uma agenda que reafirma e fortalece a luta pela construção coletiva de um novo projeto societário, radicalmente democrático e voltado para a defesa intransigente dos direitos humanos e dos interesses de toda a classe trabalhadora”, completou.
CFESS Manifesta
Para o 14º CBAS, o Conselho Federal elaborou uma edição especial do CFESS Manifesta, em que reafirma a direção hegemônica do serviço social brasileiro, na direção da emancipação humana, e apresenta as lutas e desafios para a categoria profissional. Clique aqui e leia o documento
Quem participa do CBAS
O CBAS reúne assistentes sociais do Brasil e, agora, do mundo. Há também espaço para a participação de estudantes. Cada pessoa vem com uma expectativa, um objetivo. Querem socializar experiências de trabalho, apresentar artigos ou pesquisas na área, conhecer de perto autores e autoras que produziram e produzem conhecimentos sobre a profissão e a sociedade. Tem gente que vai ao congresso para reencontrar amigos e amigas. Ou seja, muito mais do que espaço de reflexão e de pesquisa, ele fortalece e integra a categoria e a profissão. Cada personagem aqui fez um esforço para poder estar no evento. E a organização do CBAS procurou responder a estes anseios na mesma proporção. Com a palavra, você participante:
“Para nós, é uma experiência única participar do CBAS, para conhecer a experiência do serviço social brasileiro e apreender estratégias para a nossa atuação em Angola, de acordo com o contexto em que vivemos. A profissão em nosso país é recente e nosso desafio fundamental é encontrar um espaço, em nível de instituições representativas, espaço que já é consolidado no Brasil”.
Anavilde Kasessa, assistente social angolana
“Volto a meu país extremamente motivada, por ter presenciado o alto nível de debate em que se encontra a profissão no Brasil, com um nível intelectual elevado, comprometida com a luta e resistência e com o povo brasileiro. Depende de nossa atuação e de nossa vontade o fortalecimento do projeto ético-político para a América Latina, e a Argentina está aqui para fortalecer os laços com o serviço social brasileiro’.
Silvana Martínez, assistente social argentina
*Fonte: CFESS