Em alusão ao Dia Mundial de Combate ao Câncer (04/02), o CRESS Entrevista a assistente social Vanessa Lins sobre a atuação do Serviço Social junto a usuárias/os em tratamento oncológico.
Vanessa atua na Liga de Mossoró – Estudo e Combate ao Câncer (LMECC) e é especialista em Direitos Humanos e em Educação e Contemporaneidade.
Nesta entrevista, ela explica como acontece o atendimento às/aos usuárias/os do SUS e como a questão, para além da saúde física, perpassa também aspectos sociais e de garantia de outros direitos.
Confira na íntegra:
CR: Como o Serviço Social na Oncologia chegou até sua trajetória profissional? Sempre atuou na área da Saúde?
VL: Desde a academia, na aproximação com o campo profissional, por meio dos estágios curriculares, galguei os caminhos da área da Saúde. Após pouco mais de um ano de formação, surgiu a oportunidade de abraçar o universo da Oncologia, enquanto assistente social na Liga de Mossoró – Estudo e Combate ao Câncer, no qual estou até hoje.
CR: Quais as principais atribuições do Serviço Social nas instituições que realizam acompanhamento e tratamento de usuárias/os oncológicas/os?
VL: O principal objetivo da/o assistente social é identificar e intervir sobre as expressões da questão social que interferem no processo saúde-doença das/os pacientes em tratamento oncológico, contribuindo, assim, para a efetivação dos direitos sociais.
Dentre as intervenções que realizamos dentro do contexto da assistência ao paciente oncológico, está a realização de atendimentos sociais às/aos usuárias/os, familiares e/ou cuidadores, por demandas espontâneas, encaminhamentos da equipe multiprofissional ou acolhimento a pacientes que estão iniciando tratamento no serviço.
Realizamos a avaliação de situações de vulnerabilidade social, intervindo e providenciando os devidos encaminhamentos (casos de violência doméstica, pessoas idosas sem acompanhantes, negligência de familiares para seguimento de tratamento de crianças, adolescentes, idosas/os ou pessoas com deficiência), dentre outros.
Também identificamos as demandas relacionadas aos direitos sociais das/os usuárias/os, orientando-as/os e/ou encaminhando-as/os para os serviços responsáveis pelas respectivas políticas sociais: direito previdenciário e/ou assistencial (BPC), isenção de imposto de renda, aposentadoria por invalidez, gratuidade do transporte à pessoa com doença crônica (Vale Social, Passe Livre e Tratamento Fora de Domicílio – TFD); orientação e encaminhamento para acesso a medicamentos disponibilizados UNICAT (farmácia de medicamentos excepcionais da Secretaria Estadual de Saúde); orientação para judicialização de medicação de alto custo ou procedimentos pela Defensoria Pública; orientação quanto ao processo de curatela e/ou procuração, dentre outros.
Realizamos, ainda, abordagens para educação em saúde e incentivo à participação familiar no processo saúde-doença, para identificarmos as questões sociais que interferem na adesão e continuidade da/o usuária/o ao tratamento, bem como orientar acerca dos direitos decorrentes do diagnóstico oncológico.
Orientamos familiares e/ou cuidadores em situações de óbitos das/os usuárias/os, no que se refere aos direitos civis e sociais das famílias (registro da certidão de óbito em cartório, sepultamento e orientação por pensão por morte). E também orientamos sobre a legislação e rotinas institucionais, direitos das/os acompanhantes, encaminhamentos aos serviços de apoio institucionais etc.
CR: Você realiza um trabalho articulado com uma rede de outras/os profissionais e serviços? Como acontece?
VL: Sim, o trabalho interdisciplinar e multiprofissional é sem dúvidas o pilar para um atendimento humanizado, pensando a/o usuária/o no seu cuidado integral, pois necessitam de cuidados que vão além do tratamento clínico, uma vez que as consequências da doença se estendem para além da dimensão física, abrangendo aspectos psicológicos, sociais etc.
Esse trabalho em equipe, articulado, visa um atendimento de acordo com as particularidades de cada usuária/o, estando ancorado nos princípios da interdisciplinaridade, integralidade e da intersetorialidade preconizado pela própria Lei Orgânica da Saúde (LOS – Lei no 8.080/1990) e os princípios ético-políticos do Serviço Social.
Essa articulação acontece tanto por meio de reuniões mensais com profissionais da equipe para discussões de casos e planejamentos de condutas, como também no dia-a-dia, na realização de reuniões com familiares e membros da equipe multi, bem como nos atendimentos integrados.
CR: Quais os principais desafios da atuação?
VL: A problemática da Oncologia no SUS é cercada por diversos fatores que vão além da enfermidade em si e que afetam diretamente a realidades das/os usuárias/os e familiares e/ou cuidadoras/es que sofrem com o diagnóstico do câncer. Além disso, o trabalho profissional da/o assistente social, não só na Saúde, mas nos diversos campos sócio-ocupacionais, é perpassado por inúmeros desafios e particularidades, próprios das dimensões objetivas e subjetivas das relações sociais na dinâmica da sociabilidade do capital.
Então, sem dúvida, um dos grandes desafios é fazer com que essas/es usuárias/os tenham acesso aos direitos previstos nas políticas setoriais. A referência para as políticas e a garantia integral no que tange aos aspectos biopsicossociais ainda são grandes gargalos, assim como aspectos burocráticos, de financiamentos da política de Saúde, a garantia do direito ao atendimento por meio de judicializações, dentre outros.