Assistentes sociais estão inseridos/as na luta de classes

Assistentes sociais devem se articular a sujeitos coletivos, reforçando a luta da classe trabalhadora. Foi com essa certeza que o Conjunto CFESS-CRESS iniciou nesta terça-feira, 30 de outubro de 2012, o Seminário Nacional de Serviço Social e Organização Sindical, evento que acontece no Rio de Janeiro (RJ) e é organizado pelo CFESS e CRESS-RJ.

Logo nas primeiras falas, durante a mesa de abertura, ficou óbvia a importância de que a organização sindical de assistentes sociais é assunto para categoria e Conselhos discutirem. E o Seminário tem não só a intenção de ampliar este debate, mas também de mobilizar a categoria na defesa do compromisso com as lutas gerais da classe trabalhadora. “Estamos aqui fortalecendo nossa articulação com outros sujeitos coletivos que lutam no campo da esquerda”, afirmou a presidente do CFESS Sâmya Ramos. “Queremos que as pessoas saiam deste evento esclarecidas sobre sua escolha sindical, mas sempre tendo em vista a centralidade da luta de classes”, ressaltou Charles Toniolo, presidente do CRESS-RJ. “Vamos sair daqui realimentados para nossa luta”, destacou a presidente da ABEPSS, Cláudia Mônica. “É fazer com que este tema esteja presente no processo da nossa formação acadêmica”, lembrou o representante da ENESSO, Giovanni Machado.

Sujeitos coletivos na defesa da emancipação da classe trabalhadora
Para falar da organização sindical de qualquer categoria é preciso, primeiramente, entender como que se deu o processo de construção desses espaços coletivos, da sua gênese até os dias atuais. Para isso, a assistente social e professora da UFRJ Sara Granemann fez um resgate histórico da formação de partidos e sindicatos da classe operária do século 19, na Europa, às estruturas cooptadas atuais do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). “Esses instrumentos que foram, na década de 1980, fundamentais para constituir a classe trabalhadora no Brasil, hoje não a servem mais”, criticou.

Granemann falou também que assistentes sociais podem ser derrotados/as ou pela falta de condições de trabalho ou pela sua participação ainda incipiente nas lutas mais gerais da classe trabalhadora. “Ou estendemos nossa luta juntamente com outros ramos de produção ou não teremos capacidade para manutenção dos nossos direitos”, ressaltou, referindo-se à conquista da lei que reduz a jornada da categoria para 30 horas semanais. Nesse sentido, ela afirmou que a participação de assistentes sociais nas lutas da classe trabalhadora possui um componente pedagógico que é necessário “para a nossa humanização”.

Ao final, a professora da UFRJ afirmou que não basta se mobilizar, mas é preciso também se organizar para enfrentar o capital e suas expressões.

A presidente do CFESS, Sâmya Ramos, voltou à mesa de debates para afirmar que a organização política do Serviço Social brasileiro nunca deve estar desvinculada das lutas gerais da classe trabalhadora. “Ao analisar a ação política do Conjunto CFESS-CRESS, a partir de 1979, vemos que uma entidade profissional pode se transformar num espaço politizado, em defesa de uma outra sociedade, sem exploração e opressão”, completou.

Assim, Sâmya destacou mais uma vez a articulação com movimentos sociais e sindicatos, citando as inúmeras marchas, articulações e reuniões que o CFESS tem participado juntamente com outros sujeitos coletivos. “Entendemos a defesa por direitos não como fim, mas como mediação estratégica para transformação da sociedade”, finalizou.

Organização sindical no Brasil
A parte da tarde do primeiro dia de Seminário foi preenchida com os debates da mesa-redonda “Organização sindical dos/as trabalhadores/a no Brasil”, que abordou um histórico da organização sindical no país, os desafios atuais para a organização sindical da classe trabalhadora brasileira, estratégias desenvolvidas pelas centrais sindicais na defesa dos direitos dos trabalhadores/as e a Reforma Sindical no governo Lula (2003-2010).

O primeiro a falar foi o historiador e professor da Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste), Antônio de Pádua Bosi. O professor fez uma análise histórica da luta sindical no Brasil até o surgimento das grandes centrais sindicais que existem hoje. Ele ressaltou também que a legislação referente ao trabalho no Brasil data da década de 1930, na chamada Era Vargas. Além disso, Bosi enfatizou a importância da articulação sindical. “A conquista de direitos da classe trabalhadora é feita a partir do enfrentamento coletivo. O que nos fortalece é a memória da luta e a capacidade de nos organizarmos”, destacou o professor.

Em seguida, o representante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Carlos Rogério Nunes, que citou algumas das lutas da entidade, como a defesa da redução da jornada de trabalho para todas as categorias. “Defendemos também a unicidade sindical, para uma categoria sair unificada, forte e organizada para a luta da classe trabalhadora. É o que acredita a CTB”, afirmou Nunes.

Compondo a mesa, o representante da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), José Maria de Almeida, explanou sobre o processo de construção da central. “Nossa entidade foi construída a partir de um segundo processo de reorganização, após perdermos a CUT para os interesses do governo. A partir daí, as confederações não tinham condições de defender os interesses dos/as trabalhadores, por serem impermeáveis ao controle da classe trabalhadora, já próxima do governo federal”, afirmou Almeida. Segundo ele, não há como lutar naquilo que chamou de “contexto local”, ou seja, por categoria. “É preciso construir uma luta nacional, vinculada à luta mais geral pela transformação da sociedade, para aprendermos com os erros históricos e não repetirmos os equívocos passados”, concluiu José Maria.

Quem finalizou a mesa-redonda foi o representante da Intersindical, Luis Carlos Scapi, que abordou, em sua fala, a questão da cooptação que o governo vem realizando nos últimos 10 anos, para o que nomeou “governo de colaboração de classes”. Segundo Scapi, esse é o modo como o poder público lida com os interesses da classe trabalhadora no Brasil atualmente. “Isso é utilizado pelo governo e pelas centrais que o apóiam para reproduzir a aparente sensação de que todos/as ganham. Por isso, é essencial irmos para além das nossas lutas especificas”, defendeu Luis Carlos. O representante da Intersindical também registrou o falso caráter democrático e popular que tenta passar o governo brasileiro atual à população. “Exemplo disso é o crédito rápido e barato que o governo tem oferecido a população mais pobre: isso é a famosa escravidão por dívida, o que demonstra o caráter manipulador e limitador das formas de luta com que o governo age na sua relação com a classe trabalhadora nesse país”, criticou Scapi. Ele terminou sua fala, reconhecendo as diferenças de projetos sindicais, mas apontando um desafio. “Temos diferenças de métodos e metodologias, mas é preciso começar reconhecendo que temos responsabilidades coletivas na construção de uma outra sociedade”, finalizou.

CFESS Manifesta debate tema
Durante o primeiro dia de Seminário, o CFESS lançou também um manifesto afirmando que a luta sindical é instrumento de conquistas da classe trabalhadora. O documento afirma que a “perspectiva que deve nortear a organização de assistentes sociais tem de se fundamentar na crítica ao projeto das classes dominantes, que retiram constantemente os direitos dos/as trabalhadores/as, arduamente conquistados por meio da muita luta. A direção das nossas ações deve reafirmar a autonomia frente a governos e a possibilidade de crítica e de contraposição ao projeto do capital”.

Leia o CFESS Manifesta do Seminário Nacional de Serviço Social e Organização Sindical

Transmissão online
Apesar dos problemas técnicos com a transmissão online durante a primeira parte de debates, quase 700 pessoas assistiram ao Seminário pela internet, assim que a situação foi normalizada. A transmissão segue também no segundo dia do evento. Assista!

*Fonte: CFESS

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