Em tempos de avanço do conservadorismo e de acirramento da intolerância no país, o Serviço Social brasileiro ganha uma significativa contribuição de duas assistentes sociais e professoras universitárias que vivem em terras potiguares: o lançamento do livro “Feminismo, diversidade sexual e Serviço Social”, de Mirla Cisne e Silvana Mara.
A obra, publicada pela Editora Cortez como parte da importante série “Biblioteca Básica do Serviço Social”, será lançada no dia 7 de maio no 11º Seminário Anual de Serviço Social, em São Paulo (SP), e durante a Semana do/a Assistente Social, em Natal (RN), promovida pelo Conselho Regional de Serviço Social – 14ª Região, também em maio.
Embora o tema não seja novo nem estranho ao debate profissional, Mirla e Silvana acreditam que é preciso fortalecer essas reflexões, sobretudo na relação com os fundamentos do projeto ético-político, e efetivamente inseri-lo na formação profissional.
“O CFESS e a Abepss têm impulsionado bastante a categoria e as/os estudantes ao fortalecimento da agenda feminista, da defesa da diversidade sexual”, ressaltou Silvana. “Afinal, o Serviço Social lida com violações de direitos, formas de opressão e violência que são determinadas por relações sociais próprias da sociedade capitalista, o racismo, o heterossexismo”, completou a pesquisadora.
Escrever o livro
Sobre o processo de criação propriamente dito, as autoras definem como “bem dinâmico e solidário”. “Escrevemos e trocamos com total liberdade de sugerir, alterar e revisar o que cada uma fez na busca de uma melhor forma de comunicar o que desejávamos”, explicou Mirla. “Somos assistentes sociais, defensoras e militantes do projeto ético-político profissional, de esquerda, feministas, antirracistas e defensoras da diversidade humana e em particular da diversidade sexual”, completou.
A homenagem, na introdução do livro, à assistente social Marylucia Mesquita, pesquisadora e militante feminista da área da diversidade sexual que atuou profissionalmente no RN,PE, CE e DF, falecida no final do ano passado, mostra que ele foi feito em meio a entraves cotidianos e dor pela perda de pessoas queridas. “O exercício de superação das dificuldades esteve o tempo todo conosco”, afirmou Mirla. “Esperamos que o livro possa dar uma contribuição à reflexão crítica sobre estas temáticas”.
Tempos de resistir
“Temos o entendimento de que estamos vivenciando um momento histórico bastante difícil de crise estrutural do capital com avanço das forças conservadoras em todas as dimensões da vida social”, refletiu Silvana. “A conjuntura do país evidencia no plano federal um governo golpista e autoritário, que avança na destruição dos direitos da classe trabalhadora”, completou. Para as professoras, é um tempo em que as classes dominantes atuam com “total cinismo” e abrem espaço para que “as forças mais reacionárias e deletérias da direita” se manifestem.
Exemplo disso foi o assassinato da vereadora do Psol-RJ Marielle Franco. “A pergunta que temos que insistir todos os dias é: quem mandou matar Marielle? Esse crime mostra a fragilidade e ao mesmo tempo a adaptação ativa (via poderes constituídos) do estado democrático de direito frente aos interesses dominantes, mostrando que o sistema do capital convive bem e por vezes aprofunda autoritarismo, violência, racismo, sexismo e lgbtfobia”, disse Mirla.
Para as autoras, a morte de Marielle é um crime político e anticivilizatório, que sintetiza exatamente os fundamentos da formação sócio-histórica do Brasil: atinge a classe trabalhadora em seu projeto político de resistência, constituindo-se também em um ataque brutal às mulheres, à população negra e LGBT.