Com o tema Impactos da crise do capital nas políticas sociais e no trabalho de assistentes sociais, começou nesta segunda-feira (14) o 14º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), em Águas de Lindóia. Com mais de 3 mil participantes, inclusive da Argentina, Portugal e Angola, e o evento é realizado pelo Conselho Federal e pelo Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (CFESS e Cress-SP), pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e pela Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (Enesso).
Os debates dessa edição do CBAS foram abertos pelo coordenador nacional da Executiva de Estudantes, Giovanny Simon. O estudante ressaltou a necessidade de que os/as participantes do evento se compreendam não apenas enquanto assistentes sociais, mas entre companheiros e companheiras de luta. “Nossas conquistas perpassam o papel de resistência do movimento estudantil e das futuras gerações de profissionais que agora se formam. Os desafios postos neste congresso exigem de nós estratégias coletivas de combate à barbárie capitalista”, afirmou Simon.
Em seguida, a presidente da ABEPSS, Regina Ávila, prosseguiu com a mesa de abertura, reafirmando que “não está fácil lutar em uma sociedade que criminaliza movimentos sociais, que espanca professores em praça pública e que nos coloca profundas inflexões de conquistas históricas da classe trabalhadora”. Ela destacou ainda que, por outro lado, a categoria de assistentes sociais segue firme na luta coletiva “Estamos nas ruas e a disputa é permanente, daí a importância da unidade entre nossas entidades que representam o serviço social brasileiro”, completou Ávila.
Realidades como o projeto de privatização do campo de petróleo de Libra (RJ), a política de pagamento da dívida pública e o desmonte de direitos da classe trabalhadora foram relembrados na fala da conselheira do Cress-SP Mauricléia Soares. “Este congresso acontece em um momento no qual novos elementos se colocam: o clamor nas ruas é por mudanças nas políticas de Estado, que violentamente reprime as mobilizações populares, que amplia o projeto de higienização das cidades, que não garante os mínimos direitos sociais previstos na Constituição. Esse é um espaço de participação política, na luta por uma sociedade sem qualquer tipo de opressão”, registrou a conselheira.
A presidente do CFESS, Sâmya Ramos, apontou a importância do CBAS como um espaço de fortalecimento das lutas em defesa das necessidades e interesses coletivos da categoria de assistentes sociais e da classe trabalhadora. “Seguimos firmes na luta e resistência contra a lógica capitalista, que coloca tantos empecilhos à materialização do projeto ético-político do serviço social”. Acreditamos que é tempo de somar forças e construir coletivamente articulações na direção de uma sociedade livre de todos os tipos de exploração e de opressão. É o que faremos também em nosso Ato Político, que contará com a participação de movimentos sociais. Estão todos/as convidados/as a reafirmarmos os princípios de nosso projeto profissional, na perspectiva da luta anticapitalista” finalizou Sâmya Ramos, ao se referir à mobilização pública programada para a próxima quinta-feira à noite, após as palestras do dia.
Primeira conferência
A conferência de abertura trouxe reflexões relacionadas ao tema do congresso. A primeira palestra foi do professor emérito da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Paulo Netto. A partir de uma análise das raízes da crise do capital, seus fundamentos e suas expressões contemporâneas no Brasil, o professor afirmou que o serviço social experimenta significativas modificações em todo o mundo, enfatizando a diferença no debate da profissão no contexto latino-americano e no contexto dos chamados “países do norte”.
“Esta crise do sistema capitalista é mais complexa e explosiva, uma vez que atinge toda a esfera da vida social. Nesse sentido, as lutas sociais apresentam dois caminhos: a reorientação do próprio capitalismo ou sua substituição por um novo ordenamento econômico e político”, explicou o professor. Ele também contextualizou a realidade brasileira, marcada pelo belicismo e militarização da segurança pública e pelo assalto ao fundo público, em detrimento do investimento em políticas públicas. “Política social no Brasil significa administração e criminalização da pobreza, que são face da mesma moeda. Entra aí o papel do/a assistente social, que, penso eu, deve refletir sobre a reprodução de seu papel nessa realidade e na formação da categoria profissional”, explicou.
Em outra análise, a professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ana Elizabete Mota orientou sua fala para a realidade atual do serviço social e os desafios que a profissão enfrenta, passando pela natureza do trabalho do/a assistente social e a mediação estratégica na luta pela efetivação de direitos sociais. “Minha contribuição é especialmente voltada aos/às jovens profissionais e estudantes, um coletivo que integrou os 333 cursos de serviço social no Brasil, dos quais 81% privados. Esses/as são também profissionais recém-ingressos no mercado de trabalho precarizado e com condições, em muitos casos, inviabilizadoras do exercício profissional”, disse.
Segundo Mota, a despeito da inegável maturidade profissional e intelectual do serviço social brasileiro, defronta-se a profissão com um cenário paradoxal e preocupante: ao lado da formação de uma cultura profissional marcada pela criticidade e organicidade contra o capitalismo, assiste-se, por outro lado, ao avanço da racionalidade conservadora, quer no âmbito acadêmico, quer no cotidiano profissional de assistentes sociais. “Nesse contexto, é preciso abraçar coletivamente o projeto de luta em defesa da formação e do trabalho de qualidade, fortalecendo os espaços de pesquisa na academia e as articulações entre universidades e os mais diversos espaços profissionais”, ressaltou a professora.
A atividade cultural com o grupo “Trovadores Urbanos” encerrou o primeiro dia de congresso. O evento conta também com apresentação de trabalhos, exposição de pôsteres e estandes de livros, movimentos sociais e entidades.
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*Fonte: CFESS