CRESS Entrevista Kelly Oliveira sobre o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

Alusivo ao Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, celebrado hoje (25), o #CRESSEntrevista a assistente social e conselheira Kelly Oliveira sobre o significado da data para a luta das mulheres pretas.

Kelly é militante do movimento Amélias: Mulheres do projeto popular, assessora parlamentar na Câmara Municipal de Natal e especialista em Saúde Materno Infantil pela Universidade Federal do RN.

“O racismo é histórico, mas principalmente político!”, afirma a assistente social.

Confira a entrevista:

CR: O Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha reforça a luta histórica das mulheres negras por sobrevivência em uma sociedade estruturalmente racista, misógina e machista. Que análise você faz do impacto da atual conjuntura brasileira na vida das mulheres negras?

KO: Além de reforçar a luta histórica das mulheres negras nessa sociedade, a data de 25 de julho demarca uma agenda política antirracista e a necessidade constante de reflexão sobre a vida das mulheres negras. 

No contexto atual brasileiro, de aprofundamento do capitalismo e principalmente de retirada de direitos, violênica das mais variadas, sucateamento das políticas públicas por um desgoverno federal, as expressões das desigualdades de gênero e étnico-raciais têm se intensificado na vida dessas mulheres.

Atualmente, representamos cerca de 27,8% da população brasileira, e uma parcela destas mulheres não acessaram ainda o ensino superior, vivem em periferias, são trabalhadoras dos setores informais e/ou estão em situação de desemprego.

O racismo é histórico, mas principalmente político! Vivenciamos um cenário de pandemia, no qual observamos o retorno da fome no país, seguido da ampliação da insegurança alimentar nos lares brasileiros, muitos inclusive coordenados por mulheres negras. 

Nessa conjuntura, temos o aumento da fome, violências, desemprego, pouca representatividade nos espaços de poder, adoecimento mental e intensa precarização do trabalho de forma contundente na vida de nós, mulheres negras.

CR: O Conjunto CFESS-CRESS traz ao debate, neste ano, uma campanha que coloca a mulher como protagonista, “Trabalhadoras do Brasil: somos e lutamos com elas”. Qual a importância desta visibilidade para o Serviço Social?

KO: A campanha do Conjunto CFESS-CRESS é central e acertada politicamente no nosso contexto atual, pelo reconhecimento da resistência das mulheres enquanto trabalhadoras e participantes de uma determinada classe, mas principalmente pela construção histórica da profissão, bem como a constituição da nossa categoria profisional majoritariamente feminina. 

O Serviço Social tem protagonizado uma referência em vários espaços de luta no país e no nosso estado, de articulações políticas, debates, fortalecimento de projetos e pautas que caminham na direção do projeto ético-político e construção de novas relações sociais na defesa da classe trabalhadora.

Assim, evidenciar essas construções que ocorrem cotidianamente no campo concreto da realidade brasileira e que são conduzidas pelas trabalhadoras é não somente dar visibilidade ao Serviço Social como profissão, mas principalmente fortalecer e demarcar a importância da profissão e sua análise crítica da sociedade.

CR: Quais os principais desafios vivenciados hoje por assistentes sociais no seu cotidiano profissional, no atendimento à população usuária, sobretudo às mulheres negras?

KO: Às/Aos colegas assistentes sociais, os desafios são inúmeros nessa conjuntura. Dentre eles, aponto as consequências da ausência de políticas públicas e investimentos sociais em áreas fundamentais da nossa atuação, que rebatem diretamente no cotidiano de trabalho das/os profissionais e no atendimento à população usuária. 

Além disso, o racismo institucional precisa ser levado em consideração pelas/os profissionais à medida em que instituições e organizações não o reconhecem como um elemento violador de direitos e acesso aos serviços. 

Construir projetos, ações concretas e fortalecer a organização política da população, principalmente das mulheres negras, colabora para a construção emancipatória da reflexão e de saídas coletivas para os desafios existentes. 

Uma intervenção profissional alicerçada nos valores e compromissos do nosso projeto ético-político caminhará para dar respostas qualificadas ao enfrentamento ao racismo em suas variadas expressões.

CR: Que caminhos você analisa e aponta para fortalecer as lutas das mulheres negras latino americanas e caribenhas?

KO: A Sueli Carneiro tem uma frase que especialmente gosto muito e que expressa um desses caminhos, ou até mesmo o principal deles: “O racismo é um sistema de dominação, exploração e exclusão que exige a resistência sistemática dos grupos por ele oprimidos, e a organização política é essencial para esse enfrentamento”. 

A organização política das mulheres negras tem papel central na sociedade brasileira, pois nunca houve um projeto de integração social da população negra no Brasil. E através da organização coletiva, a demarcação e o rompimento com os elementos históricos são evidenciados. 

A luta por direitos e a resistência perpassam pela construção de saídas coletivas, por isso a importância dos movimentos sociais, organizações populares, sindicatos, partidos políticos, entidades representativas no enfrentamento ao racismo.

O Serviço Social como profissão alicerçada em uma perspectiva de construção de uma outra sociedade tem capacidade de construir estratégias para o fortalecimento de práticas antirracistas nos variados espaços e áreas existentes, ampliando a construção do debate e o acesso à informação para a disputa das ideias frente ao conservadorismo e à negação da existência de racismo na sociedade brasileria. 

Enfrentar o racismo e construir práticas antirracistas são tarefas importantes no cotidiano profissional e coletivo.

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