Recém-empossada presidenta do Conselho Regional de Serviço Social do RN (Cress/RN), Luana Soares, 26 anos, começou a sua militância em 2010, quando entrou no curso de Serviço Social da Universidade Federal do RN (UFRN) e ingressou no movimento estudantil.
Hoje, Luana é servidora pública municipal e atua com medidas socioeducativas, pela Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas), e é militante nos movimentos sociais feminista e de combate às opressões.
Neste Cress Entrevista, a assistente social fala dos planos da Gestão “A voz resiste, a luta insiste” para aproximar mais o Conselho da base, sobre a conjuntura atual e os desafios profissionais na garantia de direitos em um contexto de desmonte das políticas públicas.
Confira a entrevista:
CR – A Gestão “A voz resiste, a luta insiste” começa em um momento tenebroso para os/as trabalhadores/as brasileiros, de constante ataque aos seus direitos e total instabilidade no cenário político. De que forma o Serviço Social está inserido nessa realidade e quais as perspectivas?
LS – De fato, vivemos uma conjuntura muito difícil para os/as trabalhadores/as em geral. Então, em primeiro lugar, a forma como reflete no Serviço Social é nos/as assistentes sociais enquanto trabalhadores/as, porque também fazemos parte dessa classe, temos nossos direitos atacados, o risco de perder o direito à aposentadoria, com a Reforma da Previdência, e também toda a dificuldade de acesso às políticas públicas das quais somos também usuários/as.
Agora, de fato, a combinação da crise econômica com as reformas implementadas pelo governo Temer implicam diretamente nos campos de atuação dos/as profissionais do Serviço Social. Imagine daqui a 10 anos o contingente de usuários/as da Política de Assistência, por exemplo, que vai se formar a partir do desemprego, das falhas das políticas públicas.
Tem a PEC do Teto dos Gastos, que deixará o acesso à Saúde, Educação e à própria Assistência Social reduzido. Além disso, a Reforma Trabalhista e a precarização dos vínculos de trabalho. Essa junção vai desembocar principalmente na Assistência Social, mas também na Saúde e na Educação, que são campos onde os/as assistentes sociais também atuam. Então, é uma implicação direta mesmo no nosso cotidiano de trabalho.
CR – Quais os principais direcionamentos e ações da Gestão “A voz resiste, a luta insiste” para os próximos três anos no Cress/RN?
LS – Em primeiro lugar, nós reivindicamos o trabalho feito pela gestão anterior, a dinâmica que ela conseguiu dar ao Cress, principalmente todo o trabalho administrativo, burocrático e organizativo do funcionamento do Cress. Nós reconhecemos os limites e as dificuldades que tiveram e queremos dar continuidade a isso.
Mas também queremos, inclusive em virtude dessa conjuntura em que estamos vivendo, que a Gestão “A voz resiste, a luta insiste” tenha uma cara mais política, com fortalecimento do trabalho de base, desejamos uma aproximação maior do Conjunto CFESS-Cress com a base e vamos nos pautar bastante pelas mobilizações dos movimentos sociais e da classe trabalhadora. Essas são as nossas prioridades.
CR – Um dos problemas enfrentados, hoje, no Cress/RN, é o alto índice de inadimplência dos/as profissionais. De que forma a Gestão “A voz resiste, a luta insiste” vai atuar para diminuir esse percentual e, assim, garantir mais recursos para melhorar a estrutura do conselho e realizar mais ações políticas?
LS – A inadimplência é um dos nossos maiores problemas, realmente. Na transição mesmo já conseguimos identificar isso. Tem a ver com uma série de coisas, a própria crise econômica, um certo afastamento do Conselho da base. São muitas causas para esse problema. Mas de fato é o foco para que consigamos dar andamento e desenvolver os projetos que pensamos para esse triênio.
A nossa primeira iniciativa e prioridade foi a retomada da Comissão de Inadimplência, e já nomeamos os/as conselheiros que farão parte dela. Vamos iniciar as conversas com profissionais de base que tenham interesse e se identifiquem com o tema, para poder elaborar estratégias e reverter o quadro de mais de 50% de inadimplência.
CR – Qual a importância das comissões do Conselho e de uma maior aproximação da base nas ações da entidade?
LS – São as comissões que fazem com que o Cress exista, dando a dinâmica para os processos de trabalho, tanto da parte administrativa quanto da fiscalização e também nas ações políticas e do ponto de vista ético. Elas são a base da existência do próprio Conselho, e é muito importante que os/as assistentes sociais ocupem esse espaço, que é, na verdade, deles. As comissões devem refletir a realidade dos/as profissionais do Serviço Social. Alguns/mas profissionais de base já estão aderindo às comissões, já foram nomeados/as, mas estamos só no começo e a nossa ideia é que isso se amplie ainda mais.
CR – De que maneira a sua trajetória pessoal, profissional e de militância te levaram a se candidatar ao cargo de presidenta do Cress/RN?
LS – Eu entrei na Universidade [UFRN] em 2010 e já me envolvi completamente no Movimento Estudantil do Serviço Social (Mess), na luta em defesa da Educação. Na época, acabávamos de sair de todo o processo do Reuni [Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais], sofrendo as consequências da reforma universitária. E o Mess cumpriu um papel super importante nisso. Não deixa de ser também um comprometimento com a categoria. O Mess tinha isso, e a nossa principal pauta era com a Educação Pública, até por sermos estudantes, mas também já discutindo as questões da nossa profissão.
Depois, eu fui me envolvendo com outros movimentos sociais, principalmente de combate às opressões, o movimento feminista. Tudo isso me trouxe a dar mais uma resposta a nossa categoria, como uma espécie de dívida, uma responsabilidade com a organização política da categoria, principalmente em uma conjuntura muito difícil, onde é primordial fortalecer essa nossa organização em defesa dos nossos direitos.