No mês em que se celebra o Dia da Juventude e o Dia do Estudante, o CRESS Entrevista Patrícia Carla sobre Movimento Estudantil. Coordenadora de Divulgação e Imprensa do Centro Acadêmico de Serviço Social (CASS) Aurora Maria, a estudante está cursando o 8º período da graduação na UFRN.
Patrícia também é bolsista de Iniciação científica no tema da diversidade humana, sexual e da esquerda e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Trabalho, Ética e Direitos (GEPTED).
“O interesse em construir o Movimento Estudantil surgiu ainda no início do curso, quando percebi que a graduação e a inserção em um grupo de pesquisa não me bastavam. Hoje estou convencida de que a formação se dá na construção política”, afirma.
Confira a entrevista completa
CR: Como você avalia, hoje, o Movimento Estudantil nos cursos de Serviço Social no Brasil e aqui no Nordeste?
PC: Há atualmente muitas dificuldades e muitos desafios para os espaços de organização política de esquerda, como os partidos políticos e movimentos sociais. No MESS (Movimento Estudantil do Serviço Social) não é diferente. Nós temos a ENESSO (Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social), que tem buscado incentivar e fortalecer, a partir da base (que são os CAs e Das), as discussões em torno da rearticulação do MESS, identificando quais os principais desafios e as possibilidades, na atual conjuntura, de potencializar a formação política e profissional das/os estudantes.
Em 2018, nosso CASS esteve presente no último Conselho Regional de Entidades Estudantis de Serviço Social da região r2 e esse foi o debate central. Nesse encontro, inclusive, foi deliberada a organização do XLI ERESS (Encontro Regional das/os Estudantes de Serviço Social), que nós realizamos esse ano aqui em Natal, com o grande desafio de construir um evento em que todos os momentos apontassem não só para a necessidade de fortalecimento das entidades de base, como também para a participação conjunta das/os estudantes.
Eu penso que há muitas dificuldades de construção e participação política que estão relacionadas às nossas dificuldades de vida, a fragilidades subjetivas e a um processo de despolitização que vivenciamos nos últimos anos, de abandono de uma luta programática que vinculasse nossas reivindicações e demandas mais imediatas numa perspectiva anticapitalista, de denúncia aos limites cada vez mais aparentes do capitalismo em atender nossas necessidades. Mas a tarefa será sempre buscar avançar coletivamente não só enquanto resistência, mas, e principalmente, enquanto ofensiva.
CR: Como você ingressou no Movimento Estudantil? Quando iniciou sua militância?
PC: Minha militância iniciou, na verdade, na Juventude do meu partido, a UJC. A partir disso, eu e outras camaradas tomamos como tarefa política nossa inserção no MESS, na perspectiva de reorganizar o CASS enquanto referência de atuação política para as/os estudantes. Mas o interesse em construir o Movimento Estudantil surgiu ainda no início do curso, quando percebi que a graduação e a inserção em um grupo de pesquisa não me bastavam.
Contudo, por uma série de inseguranças do ponto de vista da formação política, fui adiando. Hoje certamente estou convencida de que a formação se dá na construção política, de que nenhuma/um militante nasce pronto, mas se forma na teoria e na prática coletiva, cotidiana. Minhas companheiras de gestão e eu sempre nos preocupamos em fazer essa discussão, porque sabemos que há muitas alunas interessadas em construir um CA ou outra organização política, mas pensa que precisa estudar mais até chegar em um certo nível de conhecimento. É uma auto sabotagem, que nos limita, nos impede de desenvolver uma série de habilidades, conhecimentos e aprendizados que são produto de construções coletivas. Hoje, além do Movimento Estudantil, também sou militante do PCB e atuo no campo da Educação.
CR: Os cursos de Serviço Social têm contribuído, em suas formações, para a perspectiva crítica da profissão?
PC: Sim. Felizmente e de modo geral, a perspectiva sócio-histórica da tradição marxista se mantém, acredito, como hegemônica nos cursos de Serviço Social de instituições públicas. Mas sabemos bem que segmentos conservadores, liberais e do campo do pensamento pós-moderno têm ganhado mais condições de se expressarem, principalmente depois do golpe de 2016, em que o capital apontou qual agenda econômica e política o Estado brasileiro precisaria realizar.
Eu penso que a classe trabalhadora teve sua crença em mudanças e transformações sociais bastante enfraquecida pela ausência de conhecimento teórico-político da realidade, e essa descrença, além de incidir na nossa atuação profissional (de todas as profissões e não só do Serviço Social), ainda facilita que as pessoas aceitem mais facilmente os ataques que estão sendo desferidos, enganadas pela farsa de que é o melhor para o país.
Por isso é tão importante nosso compromisso e organização política, para formar as juventudes e demais trabalhadores e trabalhadoras, em seus espaços de estudo e trabalho, numa consciência coletiva, classista de que somos nós quem produzimos a riqueza desse país, de que toda sociedade é histórica, ela é construída por nós e pode e deve ser transformada por nós, haja vista a destruição que o capital vem realizando com a humanidade, por meio da fome, da pobreza, da desigualdade, violência e pela destruição dos nossos recursos naturais. Esta consciência precisa estar presente e transversal em cada momento de nossa formação em Serviço Social e também na práxis de todas as organizações políticas. É esta consciência que nos fortalece para combater o conservadorismo em nossa profissão e na sociedade.
CR: Como o Movimento Estudantil analisa as atuais reformas que cortam investimentos para a educação pública? Quais as perspectivas?
PC: Vivenciamos uma necessidade urgente de defesa da Educação Pública, patrimônio histórico e de luta dos trabalhadores e trabalhadoras desse país. É certo que o processo de privatização da Educação, sobretudo do ensino superior, não começou com Temer e Bolsonaro, mas bem antes. Entretanto é agora que o capital não permite mais conciliação, e a organização da juventude precisa ser forte e em unidade. Como marxistas, precisamos analisar sempre a totalidade, isso significa que precisamos ser capazes de entender que um ataque contra a universidade pública, por exemplo, repercute, no aumento da desigualdade social, na precarização do trabalho de docentes, técnicos, terceirizados e bolsistas, no enfraquecimento das condições de pesquisa e extensão, assim como na formação. Limita bastante o acesso a direitos, como a assistência estudantil. A Previdência, Assistência Social, Saúde…. todas essas políticas sofrem com os ataques desferidos à Educação Pública.
Se já não bastasse o teto de recursos e o contingenciamento, ainda nos bate à porta o “Future-se” enquanto projeto de educação totalmente funcional à burguesia, passando a gestão dos recursos da Universidade para uma empresa alinhada político-ideologicamente com o governo para ditar a serviço de quem e como será produzido o conhecimento.
Por isso, o Movimento Estudantil precisa estar fortalecido pelas bases para combater a burocratização que se constituiu nas entidades máximas de representação das/os estudantes e que engessam a luta, possibilitar formação política e organizativa para, além de construir uma resistência aos ataques deste governo, avançar na construção de um projeto de educação e de universidade popular, ou seja, construído para o pelos trabalhadores, a serviço de nossas necessidades e alinhado ao projeto de sociedade que nosso projeto ético-político se vincula, anticapitalista, antirracista e anti-patriarcal.