A visibilidade trans, a violência sofrida pelos/as transexuais, a inserção deles/as no mercado de trabalho, dentre outras questões, foram debatidas na tarde desta terça-feira (31), no auditório do IFRN – campus Cidade Alta. A roda de conversa “Visibilidade Trans: por um RN sem transfobia” foi promovida pelos Conselhos Regionais de Serviço Social do RN (Cress/RN) e de Psicologia do RN (CRP-RN), Atransparência e a Ordem dos Advogados do Brasil no RN (OAB-RN), em alusão ao 29 de janeiro, Dia da Visibilidade Trans no Brasil.
Na mesa, debateram o assunto: a trans Rebecka de França, da RedeTrans; Tibério Lima, assistente social; a trans Emily Mel, psicóloga, e Mayara Contocani, estudante de Medicina. Em todas as falas, a angústia pelo preconceito ainda vivido pelos/as transexuais no país, que sequer podem utilizar banheiros públicos, têm seu direito de ir e vir negado e não possuem acesso às políticas públicas.
Em sua fala, Rebecka ressaltou, mostrando dados, que o Brasil é o campeão mundial de crimes contra a população LGBT. Além disso, o Rio Grande do Norte é o estado do Nordeste que mais mata transexuais e o terceiro do país. “A expectativa de vida da população trans na América Latina é de 36 anos”, lamentou.
Ela disse, ainda, que, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% das transexuais são prostitutas. “Não existem políticas públicas efetivas para as trans, e muitas, para sobreviver, sem opção, partem para a prostituição”, denunciou Rebecka, que é estudante de Geografia.
Sem acesso a direitos
A estudante de Medicina Mayara Contocani, que está fazendo o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) voltado aos transexuais, lamentou que a maioria dos profissionais da Saúde não estejam preparados para lidar com as questões e especificidades da população trans e afirmou que todos/as devem ter acesso aos serviços de Saúde e um atendimento humano e digno. “É a nossa obrigação, e eu busco fazer isso com amor”, disse.
Emily Mel também ressaltou a miséria a que são relegados/as os/as travestis e a negligência de direitos das quais são vítimas diariamente. “Não temos visibilidade. Travesti é motivo de chacota, aparece mais em noticiários policiais”, reclamou. “Não queremos viver de migalhas, mas com direitos plenos”, completou.
A psicóloga afirmou que os/as trans não têm acesso à Saúde de forma integral e que o Brasil ainda é muito atrasado nos debates da questão de gênero. “A cirurgia para mudança de sexo ainda acontece em número muito aquém de outros países como Canadá, por exemplo”, disse. “Precisamos que os nossos parlamentares nos representem elaborando e efetivando políticas públicas que contemplem as nossas necessidades”.
Precariedade no mercado de trabalho
Por fim, o assistente social Tibério Lima, que pesquisa a inserção precária dos/as travestis no mundo do trabalho, mostrou que poucas trans estão em trabalhos formais. Mesmo assim, as que estão ainda sofrem uma série de violências, inclusive institucional. “Muitas não têm direito ao uso do nome social, não conseguem utilizar os banheiros, não contribuem com a Previdência”, listou Tibério. “Não há como inserir a população trans no mercado de trabalho sem políticas públicas efetivas”.
Como desafios postos na atualidade para a população trans, ele citou o combate à transfobia, o acesso à educação e à profissionalização, a aprovação da Lei de Identidade de Gênero etc.