III Seminário Nacional de Comunicação debate linguagem, política e redes sociais

Assessores/as de comunicação e conselheiros/as membros/as das Comissões de Comunicação de Conselhos Regionais de Serviço Social (Cress) de todo o Brasil participaram de um momento histórico do Conjunto nesta quarta (4) e quinta-feira (5), em Recife (PE). O III Seminário Nacional de Comunicação teve, pela primeira vez, a representação de quase todos os regionais, contribuindo de forma massiva para a atualização da Política Nacional de Comunicação.

O seminário contou com a participação de quase todos/as os/as conselheiros/as do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), incluindo a presidente, Sâmya Rodrigues, e dos assessores de comunicação da entidade maior, Rafael Werkema e Diogo Adjuto. O Cress/RN foi representado por sua assessora de comunicação, Gabriela Olivar.

O evento antecedeu o Encontro Nacional CFESS-Cress e foi aberto por Sâmya Rodrigues e Emanuelle Chaves, conselheira do Cress/PE. No primeiro dia, os/as participantes assistiram a duas mesas-redondas e na quinta, compartilharam as experiências das assessorias e comissões dos regionais.

Na abertura, a presidente do CFESS falou da importância da discussão da comunicação no serviço social, que, a partir de meados de 1990, passou a entendê-la como ferramenta importante de disputa de hegemonia. Traçando um histórico, Sâmya lembrou que em 2001 foi construída a Política Nacional de Comunicação; em 2006, aconteceu o I Seminário Nacional de Comunicação; em 2007, foi publicada a primeira versão impressa da Política Nacional de Comunicação e em 2010 aconteceu o II Seminário Nacional de Comunicação, gerando a publicação revisada da Política.

“Agora vemos a necessidade de nova atualização da Política Nacional de Comunicação, dadas as mudanças sobretudo no tocante às mídias e redes sociais e à questão da linguagem”, disse a presidente. Ela comemorou, ainda, o dado que mostra que quase todos os Cress do país possuem assessoria de comunicação profissional. “A comunicação é um campo de ação política e estratégica fundamental e nós precisamos pensar que serviço social desejamos ver nos meios de comunicação”, ressaltou.

“Comunicação e redes sociais: o Serviço Social na disputa de hegemonia”
A primeira mesa contou com a participação da presidente Sâmya Rodrigues e do jornalista Arthur William, pós graduando em Novas Mídias e membro do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e do Coletivo Brasil de Comunicação Social (Intervozes).

Para Arthur, a mídia exerce um papel educativo e informativo, mas também pode confirmar preconceitos e esteriótipos. “Ela não esclarece o que é o serviço social”, critica. Para o jornalista, o Brasil ainda está longe de entender a comunicação como um direito humano e isso precisa mudar. “Os estados precisam de políticas públicas de comunicação”.

Na sua fala, ele também criticou o oligopólio existente no controle da comunicação no Brasil. “Precisamos fazer uma ‘reforma agrária na mídia’, já que sete famílias dominam: Marinho, Abravanel, Saad, Macedo, Tívita, Frias e Mesquita”, ressaltou. “Que legitimação essas famílias têm? Têm mais legitimação que os movimentos sociais?”, questionou.

Sâmya, ao falar de comunicação, citou o pensador Gramsci, que falava da imprensa como “partido do capital” e “aparelho privado de disputa de hegemonia”. Para ela, é preciso que os/as assistentes sociais se unam à luta pela democratização da comunicação no país. “Quais são os projetos societários e de disputa de hegemonia que estão em evidência nos meios de comunicação?”, provocou. “O CFESS apoia irrestritamente a não opressão e não discriminação de qualquer forma e possui um Código de Ética para além da profissão”.

A presidente relembrou aspectos da Política Nacional de Comunicação importantes, como a visibilidade à profissão em consonância com o projeto ético-político, fortalecimento dos movimentos sociais, denúncia e defesa dos posicionamentos. Para ela, é necessário realizar uma reforma no documento que abarque as temáticas linguagem e mídias sociais. “A fan page do CFESS possui 36 mil seguidores e cerca de 7,2 milhões de interações”, disse, acrescentando que a página é a 3ª mais numerosa em termos de conselhos federais do país.

“Política, linguagem não discriminatória e serviço social”
A segunda mesa, ainda na quarta-feira, contou com a participação de Jonê Carla Baião (doutora em Letras, professora de Língua Portuguesa da Secretaria Municipal de Educação do Rio, professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj e coordenadora da pesquisa “O jogo, a brincadeira e a literatura como contextos para a co-construção de gênero na escola”), Sandra Machado (doutora em História, jornalista, subeditora dos cadernos Política e Brasil do jornal Correio Braziliense, editora e articulista do Blog da Igualdade – Correioweb) e Kênia Figueiredo (assistente social, doutoranda em Comunicação, mestre em Serviço Social e professora da UNB).

A linguista Jonê Carla começou a falar sobre linguagem afirmando que nossa formação escolar incutiu que português seria para poucos e que é difícil de aprender. “Na verdade, língua é culturalização e não se separa de sujeito, contexto e cultura”, afirmou. “Ela não representa realidades, cria realidades”, opinou. Ela também ponderou que é preciso uma língua para a liberdade, que não seja sexista, racista e separatista. “A língua é um bem material de uma sociedade e demarca território”.

Para Sandra Machado, é urgente se posicionar contra a economia e a política que perpetuam os esteriótipos sociais, que, por exemplo, pregam a supremacia do sexo masculino e o padrão anglo-saxão. “No Brasil, quase não há pesquisas que estudem a questão de gênero e da visibilidade da mulher”, criticou.

Kênia finalizou afirmando que a questão da linguagem passa pelas condições de trabalho e a precarização do ensino e que ela é muito importante no atendimento ao/à usuário/a.

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