Mesa debate formação profissional, tendências teórico-metodológicas e instrumentalidade

Com a presença das assistentes sociais, professoras e pesquisadoras Luciana Cantalice (UFPB), Erlênia Sobral (UECE) e Iana Vasconcelos (UERN), o Mês da/o Assistente Social contou com a Mesa “Serviço Social na Atualidade: Trabalho e formação profissional, tendências teórico-metodológicas e instrumentalidade”, na última terça-feira (28). O evento aconteceu no Auditório 2 do Nepsa II, UFRN, em parceria com o Seminário de Pesquisa do CCSA.

A mesa, mediada por Silvana Mara, debateu o agravamento das múltiplas expressões da questão social na atual conjuntura, face o recrudecimento da crise do capital e do avanço do conservadorismo; o novo ciclo da contrarreforma do Estado brasileiro e o ataque aos direitos da classe trabalhadora; a contrarreforma na política de Educação superior e suas repercussões no trabalho docente nas universidades públicas brasileiras; os desafios do trabalho e da formação da/o assistente social; as tendências teórico-metodológicas e perspectivas da instrumentalidade.

Luciana Cantalice, em sua fala, destacou o estudo das tendências teórico-metodológicas. “Para entendê-las, é preciso analisar a realidade, porque é ela que nos coloca desafios a todo momento e faz com que precisemos nos posicionar”, afirmou. “A produção de conhecimento está em movimento, por isso trabalhamos com tendências numa perspectiva de totalidade”. Ela citou, ainda, as mudanças no espaço universitário ao longo do tempo e a conjuntura como fatores que estão sintonizados com o Serviço Social.

“A crise do capital, as contrarreformas do Estado, o agravamento da questão social mudaram o cenário brasileiro na luta de classes e no Serviço Social. Todos esses aspectos nos desafiam do ponto de vista do trabalho, da formação profissional e da organização política da categoria”, ressaltou Luciana. “O conservadorismo chega, inclusive, à nossa categoria, e temos visto emergir uma contra-corrente no interior da profissão”, alertou.

Luciana observou que há uma fragilidade visível, hoje, na formação profissional, diante da conjuntura. “A pesquisa em Serviço Social está extramemente ameaçada, mas ela é fundamental para uma direção crítica”, disse. A professora levou dados de um estudo que coordenou e está aprofundando no pós-doutorado, sobre tendências teórico-metodológicas observadas em trabalhos publicados no Serviço Social nos últimos anos. “A conjuntura tem resultado no aumento de produções com perspectivas mais conservadoras e pós-modernas”.

Instrumentalidade e pensamento crítico

A professora Erlênia Sobral começou sua fala afirmando que a universidade pública deve continuar sendo um espaço de resistência. “Há uma necessidade histórica de dizer o que faz um/a assistente social, afirmar que temos uma particularidade”, observou. Em seus estudos, ela tem se debruçado na análise da dimensão técnico-operativa da profissão. “Quando se vê os debates mais recentes, observa-se que essa dimensão não pode ser dissociada da dimensão ético-política e que não podemos realizar uma intervenção baseada em instrumentais puramente objetivos”.

Erlênia fez um histórico da profissão ao longo da sua existência, suas rupturas com modelos tradicionais e os aspectos que reverberam hoje na instrumentalidade. “Lendo a Marilda [Iamamoto] reconhecer o Serviço Social na Divisão Técnica do Trabalho, vemos também a análise de fatores importantes que observam a totalidade, a luta de classes, as particularidades da questão social”, completou.

O trabalho e a formação

Encerrando a mesa, Iana Vaconcelos abordou sua pesquisa de condições de trabalho de assistentes sociais docentes e como o contexto atual e o capital impactam na saúde das/os trabalhadoras/es. “Isso necessariamente está articulado à formação profissional”, observou. “É cada vez mais necessário mantermos espaços de debate assim, como o Seminário de Pesquisa, para refletir nossa realidade”.

Para Iana, a discussão deve levar em conta os aspectos estruturais do capitalismo e a conjuntura mais recente. “O atual governo federal, com sua política de cortes, tem impactado fortemente a vida das universidades e o trabalho docente não só no Serviço Social”, alertou. “O contexto intensifica o trabalho e eleva as exigências, porque o impacto no financiamento traz um conjunto de demandas que vão ao encontro da lógica de mercantilização”.

A professora também ressaltou o ataque à liberdade dos docentes. “Restringe-se a autonomia, com a justificativa de se combater uma suposta ameaça comunista, ideológica. Tenta-se fortalecer o pensamento conservador na formação profissional”, criticou. “Mesmo assim, estamos resistindo e mantendo nosso compromisso com a pesquisa e com o ensino”.

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