Como você, assistente social, tem se comunicado com a população usuária do Serviço Social? O que você entende por direito à comunicação? Que imagem da profissão você gostaria de ver nos meios de comunicação?
Para refletir sobre essas questões, o CFESS e o Cress/RJ realizaram nesta quinta (3) e sexta-feira (4) a quarta edição do Seminário de Comunicação do Conjunto CFESS-Cress, no Rio de Janeiro (RJ).
O evento foi direcionado especialmente para as comissões e assessorias de comunicação dos Cress e CFESS com o caráter de formação política e técnica de assistentes sociais e profissionais de comunicação que estão nos conselhos. A assessora de comunicação do Cress/RN, Gabriela Olivar, participou da capacitação.
“Precisamos falar da articulação, nem sempre harmoniosa, entre política e técnica nas nossas produções no âmbito da comunicação”, provocou o conselheiro do Cress/RJ Felipe Moreira, durante a abertura do evento. “Não temos dúvida que esta é uma área prioritária e estratégica para o Conjunto, fundamental para o diálogo com a categoria e com a sociedade”, completou a vice-presidente do CFESS, Esther Lemos.
Nos últimos anos, o CFESS e os Cress têm levantado a bandeira do direito à comunicação, pois entendem que o campo é um meio importante para a defesa dos princípios que fazem parte do Código de Ética da categoria, como a democracia, a liberdade, os direitos humanos, a cidadania, o pluralismo, entre outros.
E em tempos de manifestações da direita que pedem, inclusive, intervenção militar, e que recebem visibilidade da mídia, é urgente discutir os meios de produção da notícia.
“Enquanto nossos países vizinhos da América Latina têm buscado enfrentar os oligopólios da mídia, o Brasil caminha a passos lentos”, afirmou a jornalista do Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social, Iara Moura, durante a mesa Comunicação e ideologia na América Latina.
Não à toa, a jornalista ressaltou alguns embates que já deveriam ter sido feitos pelo governo, para que o Brasil avance minimamente no campo da democratização da comunicação. Acabar com o arrendamento das mídias (venda de espaços publicitários em emissoras de rádio e TV, que são públicas) e com a posse de meios de comunicação por políticos, regulamentar as rádios comunitárias e evitar a privatização da internet são alguns deles.
Num país onde a mídia é controlada por grupos familiares que formam oligopólios e em que produção de informação e publicidade se misturam, os meios de comunicação “se tornam atores potentes e agigantados para reprodução do sistema capitalista”.
Esta foi uma das afirmações do pesquisador em Comunicação e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rodrigo Murtinho. Ele fez um comparativo dos modelos de desenvolvimento de comunicação europeu, estadunidense e brasileiro, criticando este último pela preponderância da atividade comercial, pela concentração dos meios, pela relação simbiótica entre radiodifusão e publicidade e pelas relações patrimonialistas e clientelistas na distribuição das concessões públicas.
Este debate tem tudo a ver com o Serviço Social e a coordenadora da Comissão de Comunicação do CFESS, Daniela Neves, explica por que: a comunicação tem papel estratégico no fortalecimento dos usuários e usuárias dos serviços e políticas sociais, na disputa pela função e imagem social do Serviço Social e na construção da democratização da comunicação com vistas à transformação das relações sociais.
Nesse sentido, a assistente social destacou o significado de o CFESS estar no Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). “O Serviço Social brasileiro entende a comunicação como um direito que deve estar a serviço da sociedade e não das classes dominantes, que tão somente visam e à reprodução dos seus interesses”.
A realidade da Comunicação no Conjunto
No segundo momento do evento, representantes dos Cress de todas as regiões do país apresentaram os resultados de uma pesquisa sobre o panorama da Comunicação nos conselhos regionais.
A conclusão foi a de que a comunicação, ainda em construção, tem ganhando cada vez mais espaço e relevância na pauta do Serviço Social brasileiro. E isto pode ser medido pelo aumento do investimento na área, pela contratação de mais profissionais de comunicação nos regionais e no CFESS, pela quantidade de instrumentos de comunicação (jornais, sites, páginas em redes sociais e inclusive aplicativos para celulares) e pela frequência de debates sobre comunicação e serviço social em nível nacional e regional.
Entretanto, alguns problemas precisam ser enfrentados conjuntamente. Um deles diz respeito às distintas realidades financeiras, que dificultam uma produção mínima no âmbito. Para se ter uma ideia, tem Cress que não possui site ou que não produz informativos impressos ou virtuais para a categoria. Além disso, nem todos os Cress possuem Comissão de Comunicação, essencial para o planejamento e coordenação de ações na área.
Uma nova Política de Comunicação
Uma política de comunicação tem o objetivo de estabelecer diretrizes, princípios e posicionamentos éticos e políticos no processo de planejamento, produção e divulgação da informação.
O Conjunto CFESS-Cress possui, desde 2007, uma política que orienta as ações dos Regionais e do CFESS na Comunicação. Em 2010, ela ganhou uma segunda edição, a partir de novas percepções do Conjunto e da categoria acerca da Comunicação. No Seminário, a assessoria de comunicação apresentou a proposta da 3ª edição da Política de Comunicação do Conjunto CFESS-Cress, elaborada pelo grupo de trabalho (GT) formado pela comissão e assessoria do CFESS e pelas representações das cinco regiões.
O documento, que deverá ser aprovado no 44º Encontro Nacional, inclui debates recentes que o Conjunto tem feito, como a defesa da democratização comunicação no país, o uso de uma linguagem não discriminatória nas produções dos Cress e CFESS, a questão da acessibilidade das produções e, inclusive, indicações para o cumprimento da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011).
Síntese e desafios
Ao final do primeiro dia de evento, Kênia Figueiredo e Jefferson Lee, responsáveis pela relatoria do Seminário, fizeram uma síntese dos debates, apontando alguns desafios para o CFESS e Cress. E um dos destaques foi a necessidade de se buscar estratégias de relacionamento com a mídia, comercial e alternativa. Outro ponto levantado foi a necessidade de se pensar como a Política de Comunicação pode ser implementada nacionalmente, dada as diversidades e dificuldades apontadas pelos regionais.
Capacitação técnica
Na sexta pela manhã também ocorreu um workshop para capacitação técnica das comissões e assessorias de comunicação presentes no evento. Ministrado pela jornalista e professora em Comunicação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Ana Lúcia Vaz, o minicurso explicou pra que serve uma assessoria de comunicação. Contribuir para o diálogo entre direção e base/público, aprimorar as estratégias de produção midiática, colaborar para a formação em comunicação de assistentes sociais que estão nos Conselhos e produzir e ajudar a produzir veículos de comunicação são algumas contribuições que profissionais de comunicação podem e têm dado aos regionais.
Avaliação
Para o assessor de comunicação do Cress/PE, Paulo Lago, que participou do GT de reformulação da Política de Comunicação, participar de todo o processo (revisão do documento e análise dos dados da região Nordeste) foi importante para conhecer a realidade da comunicação na região e os desafios que estão postos para se garantir uma comunicação efetiva no fortalecimento da categoria e na defesa dos direitos humanos. “Nosso principal desafio hoje é fortalecer as iniciativas para a implementação efetiva da nova Política de Comunicação”.
Maurílio Matos, presidente do CFESS e integrante da Comissão de Comunicação, avaliou positivamente o Seminário e o workshop, destacando o debate e a construção coletiva da Política de Comunicação do Conjunto e situando o trabalho e ressaltando o significado de o CFESS e os Cress levantarem a bandeira de democratização da mídia. “Estamos nessa luta junto com os movimentos sociais, entendendo que ela é fundamental para a construção de um novo projeto de sociedade”, finalizou.
*Com informações do CFESS